terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Jornalismo, Ética e Objetividade


Suiany Rocha e Rita Alexsandra



Quando se fala em jornalismo, a ideia que logo nos vem à cabeça é aquela velha conhecida seqüência – Neutralidade, Imparcialidade, Pluralidade e Objetividade.
Façamos neste caso, de maneira um pouco mais isolada, a observação de uma delas, a Objetividade.
Jornalisticamente a objetividade está ligada de forma direta à função deste mediador entre a realidade e o público. As pessoas quando lêem jornais ou acompanham os noticiários, esperam encontrar nestes meios de comunicação informações sobre fatos reais e contados de forma mais próxima possível da realidade.
Segundo Josenildo Luís Guerra, professor de jornalismo da Universidade Federal de Sergipe “se o jornalismo não puder relatar os fatos como eles realmente são, a atividade jornalística perde a função de existir”.
Nessa mesma linha de pensamento a objetividade pode ser entendida como a apuração correta dos fatos e a observação de suas várias versões, ou seja, a checagem em “360 graus” é indispensável.
O jornalista, que é apenas um mediador, simplesmente relata o fato e a interpretação deste, fica por conta do receptor da informação, ele que deve tirar suas próprias conclusões de acordo com seu olhar, sua formação cultural e o seu grau de esclarecimento.
Ainda falando de objetividade, observada como “apuração correta dos fatos”, Um grande exemplo (ou talvez o maior exemplo) de erros cometidos pela imprensa brasileira é o Caso Escola Base, onde a ânsia pelo furo jornalístico e por ibope foi capaz de arruinar a vida pessoal e profissional de pessoas inocentes.

Relembre o caso: Em 1994, a imprensa brasileira publicou uma série de reportagens que denunciava o abuso sexual contra crianças, praticados pelos donos da escola e pais de alunos. A notícia foi publicada depois que a mãe de um aluno fez a denúncia.
A imprensa por sua vez divulgou o caso de maneira incessante em praticamente todos os noticiários, sem a menor preocupação com a veracidade das informações.
Resultado: após dois meses o caso foi arquivado pela falta de provas e indícios do crime. Mas já era tarde, pois a repercussão do caso tomou grande proporção e os inocentes envolvidos tiveram suas casas depredadas e sua moral destruída, ou seja, suas vidas não foram mais as mesmas.


Uma das manchetes do caso Escola Base Fachada da casa dos donos da Escola Base


Neste caso a ética do jornalismo foi deixada de lado por envolver valores comerciais – a venda da notícia “bombástica”.
O capitalismo falou mais alto do que os objetivos sociais e informativos que deram origem ao jornalismo.

Sobre este caso que marcou a história da imprensa brasileira, conversamos com a professora e jornalista Ana Cesaltina.

Qual a sua visão sobre a falta de ética e objetividade dos jornalistas neste caso, considerado um dos maiores erros cometidos pela imprensa brasileira?

Todo repórter precisa estar movido pela dúvida. Por isso, buscamos ouvir fontes que representem as diversas partes implicadas na situação retratada na matéria. Toda fonte tem interesses, mesmo que sejam fontes oficiais. O repórter precisa estar atento para não deixar o interesse das fontes ditarem o tom da matéria. Ouvir o maior número de fontes possível dá ao repórter maior segurança para redigir seu texto, torná-lo mais próximo do que de fato se passou.
A objetividade jornalística – que alguns dizem ser utópica -, eu considero algo necessário de ser perseguido. O repórter precisa querer obter a versão mais precisa, mais detalhada dos fatos. Além das fontes, deve recorrer a documentos que ajudem a comprovar os relatos das fontes. Isso contribuirá para uma reportagem equilibrada.
Mas a rotina cotidiana nas redações impõe um ritmo de produção de textos que nem sempre dá condições de recorrer a múltiplas fontes e documentos. Os repórteres trabalham contra o relógio, querendo oferecer ao leitor um texto atraente, com informações quentes, obtidas por fontes exclusivas. Isso tudo pode levar a precipitações e imprudências.
O código de ética do jornalista brasileiro diz todos devem ser tratados como inocentes até que a justiça prove o contrário. Até lá, as pessoas acusadas de crime devem ser tratadas exatamente assim: como acusados ou suspeitos. Imaginem que até mesmo depois de condenados judicialmente, há pessoas que provam suas inocências. Desse modo, a dúvida deve estar sempre com o repórter; ela deve ser o motor de sua apuração.
No caso da Escola Base, a situação de haver crianças envolvidas e se tratar de denúncia de abuso sexual foram aspectos explorados pela imprensa ávida por uma manchete explosiva. Mas, pelo que se pode ver na literatura, a imprensa teria contado com depoimentos de autoridades que, mesmo antes de concluírem as investigações, apontavam a culpa dos donos da Escola. Depois, assistimos à declaração de inocência dos acusados, mas o estrago já havia sido feito.
Esse é um dos casos nacionais mais célebres para apontar a responsabilidade que é inerente à liberdade de imprensa.

2 comentários:

  1. O caso de falha jornalística citado pela matéria foi, de fato, marcante. Como estudante de Jornalismo, todos os dias recebo instruções de como deve ser meu comportamento no mercado. Infelizmente todos nós sabemos que um dos mercados mais competitivos que existe no mundo é o da comunicação. Acredito que talvez a "culpa" de inúmeros casos como esse da Escola Base não possam ser, de todo, atribuídas somente aos jornalistas. O mercado exige muito de todos. Chega a exigir tanto, que os profissionais acabam tornando-se escravos dele, a ponto de fazer de tudo para conseguir um "furo de reportagem". Porém, por mais que seja arriscado "contrariar" os grandes veículos de comunicação, sei que é necessário fazer valer o Código de Ética e não colaborar com a transformação da profissão séria, correta de jornalista, em apenas um "relator de vontades particulares".

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  2. O jornalismo representa para a população o que é de mais ético e honesto. Por isso cabe a ele, e de seus profissionais, a apuração incessante dos fatos, para que não aconteçam tantos erros. É claro que o jornalismo, por ser uma instituição feita por humanos, é passível de erros como qualquer outra, mas por ser considerado “o quarto poder”, e ter tanta influência sobre a sociedade, mesmo apresentando os fatos com imparcialidade, o cuidado em publicá-los fatos deve ser redobrado.
    No caso da escola-base, vemos que o principal erro, além da falta de apuração, é a pressão sofrida pelos profissionais do jornalismo de que eles sempre têm que chocar com suas matérias. É apresentado a eles um perfil de espectador que se não tiver nada arrepiante ou extraordinário muda de veículo. É totalmente verdade. Mas as pessoas foram educadas assim pelos próprios veículos, que com interesse em lucrar, perdem qualidade e exibem quantidade. Esses casos, como o da escola, apenas refletem a pura ganância.

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