Data
coloca em discussão os hábitos de leitura do brasileiro, a ausência de
políticas públicas para incentivo de formação de leitores e as dificuldade do
setor
por Flávia Oliveira
Pergunte
ao seu colega ao lado se ele gosta de ler. A resposta provavelmente será
afirmativa. Agora questione qual foi o último livro lido de uma capa a outra.
Talvez alguns minutos sejam necessários para que surja a lembrança. Pior,
compare a quantidade de livros lidos pelo seu colega com a média do país
vizinho, o Chile. Enquanto aqui no Brasil lemos quatro livros por habitante
durante o ano, no Chile são 5,4 livros lidos, segundo os dados da pesquisa Retratos
da Leitura no Brasil, divulgados em março desse ano pelo Instituto Pró-Livro. A
pesquisa é considerada o mais aprofundado estudo do mercado dedicado a conhecer
o perfil do leitor brasileiro.
Uma
das possíveis causas para os resultados mais baixos seria o preço dos livros,
geralmente inacessíveis para boa parte da população. Para o psicólogo Paulo
Germano de Albuquerque, o país carece de políticas públicas de incentivo à
produção e comercialização de livros. “As editoras acabam fazendo dos livros
pequenos objetos de luxo, inacessíveis à boa parte da população. O Estado
deveria incentivar o comércio das publicações via redução de impostos como
ICMS”, acrescenta.
Enquanto
o Congresso Nacional não discute o assunto, quem gosta de ler geralmente se
questiona sobre para onde vai cada real pago nas publicações. Tarcísio Bezerra,
publicitário, afirma que as livrarias estão no topo da pirâmide. “De 36 a 50%
do valor do livro vão para as lojas que comercializam o produto. São elas
também que dão os maiores descontos, de acordo com o estoque”, salienta.
Especialistas
no ramo são unânimes ao afirmar que o problema é a tiragem. Enquanto outros
países trabalham com impressões médias de mais de 10 mil exemplares por edição,
no Brasil esse número fica na casa dos 2 mil. O mercado é pequeno, vende-se
pouco, e elevar essa média é fazer o produto encalhar nas prateleiras. Daí que,
com edições reduzidas, o custo por unidade sobe. Composição das páginas,
máquinas, revisões, ilustrações, tudo isso independe da tiragem. E quando se
divide o custo fixo pelo número de exemplares, tem-se o custo unitário.
Como
se não bastasse que na divisão final dos lucros o autor da obra receba apenas
de 7 a 12% do valor de capa, ainda há o problema de não haver controle sobre a
quantidade de livros impressos pela editora. “O escritor tem que confiar que a
editora imprimiu aquela quantidade, pois não há nenhum mecanismo que verifique
essa informação”, lembra Edma Góes, jornalista.
No
final, os livros mais vendidos acabam sendo mesmo os destinados a serem
bestsellers, a exemplo da trilogia “50 tons de cinza” e outras obras afins. São
essas publicações de qualidade duvidosa que compensam o prejuízo dos livros
bons de verdade. Aqueles láque acabam encalhando na prateleira.
29 de outubro, dia
nacional do livro
Para
criar nossa primeira biblioteca, Portugal disponibilizou um acervo
bibliográfico com mais de sessenta mil objetos vindos da Real Biblioteca
Portuguesa. O acervo era composto por medalhas, moedas, livros, manuscritos,
mapas e outros objetos históricos.As primeiras acomodações foram em salas do
Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro.A escolha da
data foi em razão da transferência para outro local, no dia 29 de outubro de
1810. Nascia assim, pelas mãos da coroa portuguesa, a Biblioteca Nacional do
Livro.
De
acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2013 pelo
Instituto Pró-Livro, o brasileiro termina apenas 1,3 dos quatro livros que pega
para ler por ano.
No
Brasil, 50% da população acima de 14 anos se declaram “não leitora”. Na Espanha
esse índice é de apenas 10%.
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