Internautas
inventam uma nova forma de fazer jornalismo
Modelo
de mídia colaborativa aponta novos caminhos para o jornalismo.
O
impasse sobre a construção de dois viadutos ligando as avenidas Padre Antônio
Tomás e Engenheiro Santana Júnior, em Fortaleza, ganhou destaque no Global Voices. O portal independente reúne conteúdo produzido por jornalistas e não
jornalistas, que disponibilizam suas produções de forma colaborativa. O site
conta com mais de 800 colaboradores, entre blogueiros e tradutores espalhados
por todo o planeta.
Como a Prefeitura Municipal de Fortaleza quer que seja:
Como a Prefeitura Municipal de Fortaleza quer que seja:
(FOTO: Divulgação)
Confira matéria do Global Voices na íntegra:
Fortaleza: Justiça brasileira autoriza obra no Parque Ecológico do Cocó
A
cobertura foge dos moldes tradicionais. No caso da ocupação do Paque do Cocó
por manifestantes contrários a construção da obra viária, um dos diferenciais
foi a veiculação de um mini-documentário produzido pelo grupo Canal Popular,
além de informações do Rapadura Popular, ambos, conteúdos também produzidos de
forma coletiva.
Temas
e assuntos que, em geral não encontram ressonância na mídia tradicional,
encontram espaço no portal de notícias. Um exemplo é a cobertura dos protestos
realizados no Benim, país da África Ocidental. O fato não obteve
repercussão na mídia tradicional brasileira seja radiofônica, televisiva ou
impressa, no Global Voices foi uma das matérias em destaque. Vestidos de
vermelho, os benienses saíram às ruas em protesto contra a reforma
constitucional proposta pelo presidente da república, Boni Yayi. O movimento
nasceu no Facebook.
Confira matéria na íntegra:
Quarta-feira Vermelha: onda de protestos no Benim
O
diferencial do Global Voices é a abordagem, o ângulo com que os colaboradores
enxergam a notícia. Como se trata de um portal colaborativo de notícias, as
matérias não sofrem censura, não estão sujeitas à regras impostas por uma linha
editorial. Ao contrário do que se comenta nos bastidores da produção realizada
por grande parte das empresas jornalísticas tradicionais.
O
site atrai a curiosidade do público, em especial dos jovens como Soriel Leiros,
estudante de jornalismo da Faculdade 7 de Setembro, que conversou com o blog através do Facebook. O conteúdo do Global Voices
chamou a atenção do educando: “A organização dos conteúdos e a diversidade de
informações. Outro ponto que merece destaque é a praticidade de achar o que se
busca na página”.
Soriel
vê o site colaborativo e as formas tradicionais de jornalismo se complementam:
“Não como algo melhor ou pior, mas que tem um outro olhar diante dos fatos.
Possui características e linguagem próprias, o que o torna um grande espaço de
pesquisa e de informação”.
Na
opinião de Izolda Ribeiro, assessora de imprensa e estudante de jornalismo, a
participação de blogueiros e colaboradores dá mais dinamismo ao site: “o bacana
é que tem gente do mundo todo que colabora com a atualização do site, faz o
site ter uma linguagem plural, dinâmica, diversa”. O blog conversou com a estudante por Facebook.
Um
modo diferente de se fazer notícia
A
forma colaborativa subverte a lógica estabelecida do processo de produção
tradicional, baseado nos moldes do capitalismo ocidental, onde se contrapõem de
um lado as empresas detentora dos recursos tecnológicos e dos meios de
produção, do outro a classe operária, os empregados, que trocam sua mão de obra
por salários pagos em troca de seu trabalho.
Neste
modelo, o jornalismo não precisa ser feito necessariamente por um jornalista.
Qualquer um pode utilizar de recursos tecnológicos simples para produzir uma
matéria. É caso do mestrando em sociologia e zinetecário, João Miguel Lima. O
colaborador escreve de Fortaleza.
Em
geral, os colaboradores são blogueiros que se identificaram com a proposto do Global
Voices. Poderiam escrever em seus blogs, mas juntos acreditam que tornam-se
mais fortes e atingem um número maior de pessoas.
Aos
poucos este modo de fazer jornalismo acaba mudando também o modo tradicional,
na medida em que jornais, portais, programas de rádio e televisão de grandes
empresas, passam a apostar na participação de colaboradores.
No
Ceará, por exemplo, o portal do Jornal O povo tem a sessão "Você faz opovo", inteira dedicada a participação de internautas que podem contribuir
com artigos, fotos, vídeos, informações, comentários e votação.
Este
novo modo é um exemplo do que é a Web 2.0, cuja característica principal é a
interatividade. Os desenvolvedores ao invés de produzir conteúdos, passam a
criar plataformas intuitivas, onde o internauta possa aprender rapidamente
utilizar. O internauta deixa de ser um mero consumidor de informações e passa a
ser por vezes um colaborador, um distribuidor, um produtor de conteúdo.
Sites
colaborativos são nova fonte de informação
No
dia 25 de junho de 2009, milhares de pessoas ao redor do mundo ficaram sabendo
da morte do cantor Michael Jackson através da Internet. Algumas através de
sites de notícias, outras pelas redes sociais. O imediatismo da Internet coloca
os portais de notícias numa posição estratégica, a de comunicadores dos fatos
em primeira mão, posição disputada com o rádio.
Notícias
trágicas ou sensacionalistas envolvendo personalidades, além de apelativas
atiçam a curiosidade e por isso geram grande interesse do público, e, por consequência audiência para os grandes veículos de comunicação.
Este gênero de notícia sempre encontra espaço na grande mídia, o mesmo não se pode
dizer, por exemplo, de fatos relacionados a reivindicações de movimentos
sociais. Muitas vezes nem mesmo em veículos de alcance local.
Analisando
mais de perto a internet vai se perceber que os sites ligados à grandes
empresas de comunicação apresentam temas em comum, e que embora apresentem uma
grande variedade de editorias, possuam um grande contingente de profissionais
produzindo conteúdo, ainda assim haverão assuntos de relevância social, que
são "renegados" pela grande mídia.
Nem
todos os segmentos da sociedade tem voz na grande mídia tradicional. E onde
estas representações encontram espaço para expor os fatos importantes
relacionados a sua realidade? Na internet, em sites colaborativos como o Global
Voices.
Uma
das características que se observa logo que se "entra" no site do
Global Voices são os assuntos pautados pelo site. Em parte, não coincidem com
os temas pautados pelos grandes veículos de comunicação tradicionais.
Entenda
mais
O
Global Voices foi fundado em 2005 por Rebecca MacKinno, ex-chefe de
redação da CNN em Pequin e Tóquio, e por Ethan Zuckerman, tecnólogo e
especialista em África. Hoje o portal tem seu conteúdo traduzido para mais de
trinta idiomas. No início era um simples blog que nasceu durante um encontro
internacional de blogueiros que se reuniu em Harvard, em dezembro de 2004.
O
site sobrevive de bolsas, patrocínios, trabalhos comissionados e doações para
cobrir gastos. Embora o Global Voices seja uma fundação sem fins lucrativos,
não existe um escritório, mas sim uma comunidade virtual.
Agora mais importante do que simplesmente dar voz às pessoas nas novas mídias é fazê-las compreender o quão difícil é o trabalho jornalístico sério, o quanto se busca e jamais se pode alcançar a tal imparcialidade. Que tudo é uma questão semiótica de observadores e fenômenos observados repletos de infinitas variáveis, que dizem respeito aos repertórios de cada observador.
ResponderExcluirO jornalismo colaborativo é algo arriscado. Pois é necessário que o produtor da informação(jornalista ou não)tenha segurança acerca do assunto/tema abordado, para que não seja apenas "achismo". Conhecer o ambiente que está pautando de forma imparcial.
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